TRANSTORNOS
DE ANSIEDADE
COVID 19
A ansiedade talvez seja o estado mental mais comum às pessoas em geral, e por isso, falar sobre o transtorno de ansiedade é antes de tudo uma oportunidade para pensar o que é um transtorno mental. Um psiquiatra, especialmente, por ser um médico, está muitas vezes focado nas chamadas alterações, acontece que as alterações do estado de saúde físico são muitas vezes mais fácies de serem observadas e consequentemente de se traçar um limite entre o normal e o “patológico”, se comparadas ao que chamamos de alterações do estado mental, que são sempre complexas, pouco parametrizáveis e singulares. A CPFL paulista na voz do psiquiatra Mario Eduardo Costa Pereira dedica um programa inteiro do famoso café filosófico para pensar o que seria um transtorno metal. O acesso ao programa é fácil pelo Youtube.
Para ficar mais didático, podemos dividirmos o entendimento entre o que é um transtorno e o que seria a ansiedade em si. Um transtorno mental pode ser resumido basicamente no fato de que os estados mentais ( sensações, pensamentos, sentimentos, comportamento motor e etc) estão acontecendo em qualidade ou em quantidade desagradável ao indivíduo ou que de alguma forma prejudica sua convivência com outros indivíduos, ou ainda , quando foge a um padrão anterior que seria o esperado para aquele sujeito nas suas relações consigo mesmo, com os outros e com o mundo. Basicamente podemos entender que um estado mental passa a caracterizar um transtorno quando traz sofrimento à pessoa.
A ansiedade, seria um desses estado mentais, extremamente comum, útil, necessário e criativo. É o estado de estar pré-ocupado com alguma questão que nos faz estar preparados para ela. Portanto, nem toda ansiedade precisa ser tratada, o que ela precisa é ser dirigida para atitudes produtivas. Quanto maior a incerteza ou a imprevisibilidade da situação futura aguardada, mais intensa será a resposta ansiosa do organismo. Logo, sintomas como o aceleramento cardíaco, o excesso de transpiração, o rubor de faces e a enorme quantidade de pensamentos antecipatórios tende a aumentar conforme a incerteza e também conforme o grau de auto-responsabilização do sujeito em relação ao resultado da situação futura.
Bom, na situação em que estamos vivendo agora, de combate à pandemia do COVID-19, fica muito evidente as diferenças entre um pensamento individual e o pensamento coletivo. Nossa sociedade ocidental tem por essência uma determinação individualista no seu modo de viver e se relacionar. Quando passamos a combater uma pandemia, as principais orientações dos estudiosos, cientista e autoridades sanitárias solicitam atitudes baseadas no bem estar coletivo. Pensar coletivamente é correto, porém não é natural para a maioria das pessoas. Acontece que para as mentes mais ansiosas já existe uma tendência à individualização do pensamento, um dos melhores exemplos é a chamada tendência à catastrofização, ou seja, a partir de elementos frágeis da realidade , a pessoa acredita que necessariamente o pior ocorrerá. É esse pensamento catastrófico o responsável por medidas como comprar 15 frascos de álcool-gel ao invés de 2, considerando que necessariamente os mesmos faltarão. Observe que aqui está um exemplo de como uma ansiedade exagerada pode atrapalhar não só um indivíduo, mas toda uma coletividade.
Quando se pensa psiquiatricamente em transtornos de ansiedade, estamos falando de um grupo de diagnósticos diferentes, no qual, todas as classificações possuem em comum a ansiedade como a principal manifestação de um “estado mental” alterado. Nesse grupo estão o T.O.C. ( Transtorno Obsesivo Compulsivo) , o T. de Ansiedade Social , a Síndrome do Pânico dentre outros. O transtorno mental mais comum na população geral são as fobias específicas ,
o que significa que a ansiedade e o medo estão nesse caso , dirigidos a um objeto específico , exemplos: medo de lugares fechados, medo de altura, medo de barata e etc. Quando as reações ansiosas se dão para diferentes situações, nós dizemos então que a ansiedade se generalizou. As pessoas com T.A.G. podem se ver sem controle dos seus sentimentos e comportamentos em diversas circunstâncias: avaliações ou testes, entrevistas de emprego, evoluindo até para situações corriqueiras como ter que pedir um favor ou devolver um produto que não lhe serviu. Existem variações de sintomas que aparecem nos quadros clínicos já iniciados mas ainda não muito graves , ou seja, casos leves e moderados, quando , a pesar de estar sofrendo, o indivíduo mantem-se sem buscar ajuda , são exemplos desses sintomas o aumento do consumo de alimentos e bebidas, a irritabilidade excessiva, a sensação subjetiva de que não consegue relaxar nunca , mesmo nos dias de folga do trabalho.
Uma pandemia, as mudanças impostas por ela e os cuidados necessários provocam uma ameaça real e absolutamente imprevisível em relação ao futuro. Nesse sentido, além do desenvolvimento de transtornos de ansiedade , existe uma chance aumentada de reativação de sintomas que estavam controlados em pacientes que já viam em tratamento, especialmente , se esse tratamento for interrompido ou não levado a sério.
Fora os aspectos de incerteza e imprevisibilidade a situação pandêmica atual, por exigir o estado de isolamento social, pelo ou menos na sua forma física, constitui um ataque ao senso de pertencimento a um grupo e à participação social. Nesse sentido é muito importante que as pessoas diminuam a sensação de estarem sozinhas se comunicando nas redes sociais e fortalecendo os vínculos mesmo que a distância. Na fase pós pandemia, muitos de nós estaremos lidando com perdas financeiras, perdas de recursos materiais e para alguns, perda de entes queridos. Nessa fase, a ansiedade pode se transformar em tristeza e angústia e serão necessários vínculos fortalecidos entre os sobreviventes para evitarmos o aumento da Depressão e o Transtorno de Estrese Pós-traumático. Os profissionais de saúde e os enlutados tendem a ser os mais afetados por esses transtornos mentais, portanto, precisam se cuidar desde já.
As recomendações são para que a rotina de antes do confinamento seja mantida na medida do possível. Procure acordar e dormir nos mesmos horários, manter uma alimentação parecida ou melhor que a de antes, se exercitar mesmo dentro de casa e, principalmente, estar informado de uma maneira saudável, não assistir a noticiários o tempo todo e tampouco envolver-se em mensagens pouco precisas nas redes sociais. Pode ser que por algum aspecto de mudança na rotina ou número de pessoas em casa, não seja possível você seguir todas essas recomendações, não se preocupe, faça aquilo que estiver ao seu alcance. E lembre-se, o conhecimento é libertador e te ajuda a se sentir menos incerto sobre as coisas, porém a fixação mental em um único assunto pode ser angustiante e enlouquecedora. Faça sua parte sem se esquecer que existem muitas outras coisas acontecendo além do combate à pandemia.
